Porque
é tão importante na vida humana ter um(a) companheiro(a)?
Assim
começava o artigo do jornal matinal que resolvi ler enquanto Giovana prepara
seu suco de laranja. Não que isso fosse um ritual de todos os dias, mas, era comum
ao menos uma vez ao mês que estivéssemos os dois acordados de manhã antes do
trabalho em casa e dispostos a sentar na mesma mesa.
Um
ano e meio morando juntos e já não aguentávamo-nos mais, culpa de nossas
rotinas estressantes é verdade. Gi trabalha como publicitária em uma agência
famosa, aliás, é a assistente do dono. E eu sou um delegado de uma das piores
DPs de São Paulo. Bom, melhor voltar a ler o artigo.
“É algo estranho,
nos casamos após sairmos do colégio e nunca tínhamos nos olhado antes”.
Depoimento
de alguém que realizou um sonho é verdade. Dizem que a melhor época pra
encontrar alguém para casar e constituir família, é a juventude inicial, a
adolescência nos Colégios. Bom, conheci a Gi na
faculdade. Tínhamos um amigo em comum, saiamos pras mesmas baladas,
começamos a nos falar e aí, aconteceu.
“Querido,
pode me passar a manteiga? Querido... Querido?!” – Desculpe, respondi enquanto
dava a manteiga a ela. Minha concentração naquele pedaço de papel de má
qualidade era algo que irritava. Ela odiava que eu lesse durante o café da
manhã, mas não falou nada.
Linda,
uma reportagem diz que nós só nos relacionamos por falta de um sentimento
próprio de compaixão total. Giovana bate forte com suas mãos delicadas em cima
da mesa de vidro – receio que a força tenha sido o suficiente para trincar o
móvel – enquanto exclama: “Besteira! Nós relacionamos porque gostamos de nos
relacionar, relacionamo-nos porque queremos prazer. Deixe de ser idiota Matt!”.
Um
acesso de raiva, quanto tempo não à via assim. Gi era apaixonada por natureza,
sua mãe a criou com o pensamento “case, case e tenha família. Você será feliz
assim”. Eu fui criado do jeito comum, case se tiver a chance, se achar a pessoa
certa.
Gi
era a pessoa certa, mas eu temia não ser o certo para ela. Ela saiu pra
trabalhar, não disse nem sequer um tchau. Certo... Devo ir embora também.
Coloquei minha camiseta preta com os dizeres “Polícia Civil” nas costas e o
colete à prova de balas por cima. Arma, distintivo, chaves, óculos escuros.
Tudo certo.
Entrei
no meu Corolla e andei pela rua, devagar, sem pressa. O farol ainda estava
vermelho, então eu fui indo devagar para que quando chegasse lá ele já
estivesse aberto. Deu certo, acelerei para atravessar a avenida. Dois
quarteirões na mesma rua virei à esquerda para fazer o retorno e voltar à
avenida para ir ao sentido certo, dois carros me acompanham.
Acelerei,
sem olhar pra frente, concentrado nos carros que estavam atrás de mim, os dois
começaram a disputar uma corrida e eu estava no meio do percurso. Sem olhar pra
frente, não vi o caminhão da Eletropaulo que estava reparando a fiação
elétrica.
E
eu nunca pude dizer a Giovana, que queria casar com ela.