Lendas.

quarta-feira, novembro 14


Lendas não morrem, é... Nunca morrem. Lendas verdadeiras nunca morrem que seja dita a verdade. Bom, esse sou eu deixando meu sangue secar ao redor desse ferimento, enquanto me arrasto para perto de uma criança caída. Sinto algo em meu rosto, algo molhado... Agora não enxergo de um olho e a criança começa a chorar, não consigo me mexer direito, parte de meu corpo não se move e continuo a não enxergar por um olho.
         Vejo algo rosa passando pelo meu olho direito, algo rosa e cinza ao fundo, a criança foi baleada e começa a jorrar sangue de sua cabeça.
Meu cachorro, posso ver  meu cachorro com meu olho direito e a criança com meu olho esquerdo. Não creio nisso... Estou dormindo e acordado ao mesmo tempo. Estou preso em um sonho enquanto vivo a realidade.
Eis que me surge Lorena, como sempre, tirando o Lobo de cima de mim pela manhã. Enxergo-a com meu olho direito e o esquerdo agora enxerga o asfalto e o cinza do concreto ao redor. Nunca me senti assim.
Levanto-me e vou ao banheiro, jogo água no rosto para ver se muda algo e nada. Continuo preso entre realidade e sonho.

Vou para a cozinha, sento-me à mesa com Lorena e seu filho. Meu olho direito ainda não corresponde à realidade. Sei que estou de olhos bem abertos, pois ninguém comentou nada. Sinto sono, falta de ar, coração quase sem pulso e ainda a criança jorra sangue pela cabeça.

Olho para cima, um homem de uniforme e sua Magnum .44... Qual será a boa notícia do dia? Sento-me no banco do motorista de meu carro, sinto um leve desconforto. Vista turva. Pernas adormecem. Meu pé no acelerador, e continua o pressionando... O velocímetro aponta 140 km/h.

E de repente, tudo apaga.