Perdido
em devaneios, ia seguindo uma trilha sinuosa por dentro de um terreno baldio
que em sua mente era um precipício imenso, com seu fim sem fim. Era uma
criança, sim, uma criança inocente, mas, abandonada à própria sorte em uma
terra de dragões e bruxas.
A
imaginação de Lucca era sem dúvida
uma das coisas que mais admiravam nele, sua professora Marta admirava como aquele garotinho de 9 anos escrevia bem e
imaginava coisas tão grandes, pra alguém recém-letrado.
Imaginavam
Lucca como um aluno superdotado ou
algo do gênero, enquanto o garoto sonhava estar em uma terra de Dragões. Marta era a rainha do Reino dos Dragões
Imperiais, os mais perigosos no Mundo de
Lucca, o mundo de Dragões que Lucca
sonhava estar.
Ele era o caçador de dragões
daquela terra, ele que deveria mata-los para salvar os humanos, e todo dia
matava um. Todo dia algum dragão sumia, mas nunca Marta e isso começou a ocupar a mente do pequeno Lucca...
Lucca tinha pesadelos enquanto
dormia, os dragões os cercavam e quase sempre ele acabava mutilado ou machucado
gravemente, a ponto de morrer. A imaginação de Lucca era tão detalhista que ele sentia tanto a dor, quanto
via suas vísceras dilaceradas.
E quase sempre, Marta o matava. Mas, nesta noite, Lucca teve um sonho tão forte, que ao
acordar, pegou papel e caneta e pôs-se a escrever o plano que teve em sonho,
pra matar o último dragão que existia. Era complexo, ele ia precisar de muitos
objetos que estavam espalhados pelo Mundo,
mas com algum tempo os conseguiria.
Lucca demorou três meses para
conseguir todos os objetos que precisava, aproximavam-se as férias de verão. Ele tinha três semanas pra colocar seu
plano em prática, ardiloso para uma criança e engenhoso para um cavaleiro.
Marta começou a chamada, Lucca levantou e pediu para ir ao
banheiro. Foi sozinho como sempre, voltou e sentou-se. Pegou sua pastinha com
vários desenhos e textos. Sacou seu plano e o pôs sobre a mesa. Pegou um lápis
e seu apontador.
Lucca quebrou o apontador para
conseguir pegar a lâmina, com a lâmina na mão começou a afiar o lápis, até
conseguir furar seu próprio braço. O cheiro do sangue iria atrair o dragão. Logo
Marta se aproximou.
“O que foi isso pequeno Lucca?” disse Marta olhando para o braço de Lucca
que pingava sangue, voltou para sua mesa, abriu a segunda gaveta, onde guardava
medicamentos e começou a procurar algo para fazer um curativo no braço do
menino.
“Lucca, venha cá, sim?” disse Marta chamando o garoto, ao chegar
perto, Marta exclamou que não achava
nada. Lucca disse que talvez estivesse
na última gaveta. Ele sabia que estava
lá porque ele havia posto lá.
Marta abaixou para abrir a gaveta,
num pulo, Lucca pôs-se em guarda. O
dragão deixou sua guarda baixa, seu ponto vital, seu pescoço a mostra. Num
movimento magistral, Lucca cravou sua
espada no pescoço do dragão.
Marta caiu no chão formando uma poça
de sangue instantânea no carpete, e o lápis de Lucca em sua jugular.
A única reação das crianças que
estavam na sala foi chorar em silêncio, enquanto o pequeno Lucca sentava-se no seu lugar normal e comia sua maçã.